Saltar para o conteúdo

Cientistas comportamentais afirmam que os que andam devagar apresentam sempre os mesmos traços de personalidade preocupantes, segundo vários estudos.

Pessoas a atravessar uma passadeira numa rua arborizada durante o dia.

On a todos já vivemos aquele momento em que a vida parece passar em câmara lenta num corredor cheio.

Está com pressa, a reunião começa em três minutos, e alguém à sua frente avança como se o tempo não existisse. Sem incapacidade, sem carrinho de bebé - apenas um passo arrastado, olhos perdidos no vazio ou no telemóvel. Sente a tensão a subir, mas uma pequena pergunta insinua-se no meio da irritação: será que andar devagar diz algo mais profundo sobre uma pessoa?

Há alguns anos, investigadores do comportamento vêm a observar o mesmo fenómeno, estudo após estudo. Quem anda sistematicamente devagar, sem motivo físico, partilha traços de personalidade que se repetem quase de forma idêntica. Mesmo quando mudam as equipas, mudam os países, mudam os métodos, os resultados apontam na mesma direção. E isto começa a incomodar um pouco toda a gente.

Porque, se a forma de pôr um pé à frente do outro conta algo sobre a nossa relação com o tempo, com os outros, com o mundo… percebe-se que o tema vai muito além da simples velocidade no passeio.

O que os caminhantes lentos revelam discretamente sobre si

Tendemos a acreditar que a velocidade a que se anda é apenas uma questão de forma física ou de humor. Os cientistas, porém, começaram a detetar um padrão mais sombrio. Em vários grandes estudos de psicologia da personalidade - aqueles que acompanham milhares de pessoas ao longo de anos - destaca-se a mesma ligação: os caminhantes cronicamente lentos (fora problemas de saúde) tendem a pontuar mais alto em traços como narcisismo, egocentrismo e baixa consideração pelo tempo dos outros.

Os investigadores falam de “velocidade de marcha autoimposta”. Não é o facto de estar sem fôlego, cansado ou ser idoso. É a escolha silenciosa de ocupar espaço, de ditar o ritmo de todos à volta. Vários trabalhos associados à famosa “Tríade Negra” (narcisismo, maquiavelismo, psicopatia) observaram assim que os indivíduos que não se ajustam à multidão, que permanecem na sua bolha a uma velocidade muito reduzida, apresentam mais frequentemente uma visão centrada em si, menor tolerância para a urgência alheia e uma certa frieza social.

É subtil, quase invisível no dia a dia. Mas, estatisticamente, existe.

Um exemplo marcante vem de estudos de observação filmada em corredores de universidades e em estações. Equipas cronometraram milhares de percursos anónimos e cruzaram esses vídeos com testes de personalidade realizados em separado. Resultado: quem anda claramente mais devagar do que a média, sem limitação física, é também quem menos tende a desviar-se para deixar passar, a olhar em redor, a adaptar o passo à situação.

Os investigadores mediram pequenos gestos: segurar a porta, libertar o centro do corredor, não bloquear uma escada rolante. Individualmente, são pormenores. Em conjunto, desenham uma atitude geral perante os outros. Um estudo britânico mostrou até que os estudantes mais lentos e menos atentos ao ambiente social eram também os que afirmavam ser “mais importantes do que a maioria das pessoas” nos questionários.

Em suma, não se trata apenas de rapidez. Trata-se de presença para os outros - ou da sua ausência.

Os psicólogos comportamentais explicam esta ligação com uma ideia simples: o nosso corpo denuncia as nossas prioridades. Andar muito devagar no meio dos outros, sem se preocupar em incomodar, transmite uma mensagem silenciosa: “O meu ritmo está acima do teu”. É uma microforma de dominação passiva, quase suave, mas bem real. Quando este comportamento é sistemático e não depende do contexto, costuma rimar com baixa empatia e com a tendência para se viver como o centro do cenário.

➡️ Sem geleira, sem saco térmico: a Lidl lança uma invenção para manter comida e bebidas frias este verão
➡️ Más notícias para jardineiros que usam este método de principiante para goiabeiras em vaso: podem nunca ver fruta a sério
➡️ Despejada aos 87 anos após 57 anos na sua casa: a face cruel de um sistema de habitação falhado
➡️ A psicologia diz que as pessoas que interrompem constantemente conversas têm estes 7 traços subjacentes
➡️ Comparo fotos tiradas com o iPhone 17 Pro e o Google Pixel 10 Pro: qual é o melhor telemóvel com câmara?
➡️ Andar depressa revela traços psicológicos perturbadores, alertam investigadores
➡️ Um patrão no Louisiana dá aos seus funcionários um bónus de 240 milhões de dólares
➡️ Especialistas analisam o creme Nivea e o que encontram pode surpreendê-lo

Atenção: isto não significa que todos os caminhantes lentos sejam narcisistas tóxicos. As estatísticas falam de tendências, não de destino individual. Mas quanto mais repetimos estas trajetórias nonchalantes sem nunca as questionar, mais reforçamos um estilo relacional em que o outro se torna cenário, não parceiro de circulação. A marcha passa então a ser uma espécie de assinatura social a céu aberto.

Como interpretar - e reajustar - o seu próprio padrão de marcha

Os especialistas em comportamento aconselham uma experiência muito simples: observar a sua próxima caminhada na cidade como se se visse de fora. Sem aplicação, sem relógio inteligente. Caminhe cinco minutos numa rua movimentada e, depois, faça a si próprio três perguntas: adapto a minha passada às pessoas à minha volta? Bloqueio por vezes a passagem sem dar conta? A minha velocidade muda quando alguém atrás de mim parece ter pressa?

Este pequeno autoquestionário permite distinguir o “sou naturalmente calmo” do “estou fechado na minha bolha”. Os investigadores notam que quem anda devagar mas continua atento ao fluxo, encosta-se, olha para trás, não apresenta os mesmos traços de personalidade problemáticos. Tem um passo tranquilo, sim, mas não um passo indiferente. É a combinação lentidão + indiferença que mais alarma nos estudos.

Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Raramente saímos do metro a pensar “hoje vou analisar a minha trajetória”. Ainda assim, depois de se ver a ligação entre corpo e psicologia, já não se anda exatamente da mesma forma.

Para mudar o “perfil de marcha”, os investigadores não falam em passar para modo corrida. Falam em entrar no que chamam “velocidade social”. É um ritmo em que consegue acelerar um pouco num corredor cheio, desviar-se mecanicamente para a direita, guardar o telemóvel quando alguém tenta ultrapassar. Não são feitos heroicos - são micro-sinais: “Eu sei que existes, e ajusto-me a ti.”

Os erros frequentes são quase sempre os mesmos: andar a meio do corredor como se se estivesse sozinho no mundo; parar de repente no meio do fluxo para ler uma mensagem; ocupar toda a largura do passeio a dois, sem deixar passagem. Estes gestos, repetidos, criam uma impressão de frieza, mesmo que a intenção não seja má. São exatamente aquilo que os estudos descrevem em perfis com baixa consciência dos outros.

Adotar a “velocidade social” não é negar-se a si próprio - é voltar a afinar-se por uma partitura coletiva. Um pouco como baixar o volume da voz num open space. Não se torna outra pessoa; torna-se convivível.

Como resume um investigador em comportamento urbano:

“A sua velocidade a caminhar não é apenas sobre quão depressa se move. É sobre o quanto deixa o mundo existir ao seu lado.”

Para se orientar, pode ter em mente alguns pontos simples:

  • Se está no meio do fluxo, mantenha um ritmo que não obrigue os outros a contorná-lo constantemente.
  • Se tiver de abrandar ou parar, encoste-se ao lado - como um carro que encosta.
  • Se alguém o estiver a “calcar”, deixe uma abertura, mesmo pequena, para que possa passar.
  • Se caminhar a dois ou três lado a lado, pense em reduzir a largura nos locais mais estreitos.
  • Se sentir que está a “cortar” trajetos, pare um segundo para olhar em redor e reajustar o seu caminho.

O que os caminhantes lentos significam para a nossa vida partilhada nos espaços públicos

Quando os cientistas repetem estes estudos em países diferentes, encontram sempre o mesmo fio condutor: a velocidade de marcha revela uma relação íntima com o coletivo. Os caminhantes muito lentos e pouco atentos encarnam, em pequena escala, uma forma de “eu passo primeiro, o resto que siga”. Não é tão vistoso como uma falta de civismo flagrante. É mais discreto, quase educado. Mas está lá.

E se estes gestos minúsculos moldassem a nossa sensação de viver em conjunto? Raramente nos lembramos de um dia porque alguém caminhou à direita em vez de ir a meio. No entanto, some estes micro-gestos num passeio, num corredor, num centro comercial, e obtém ou uma circulação fluida, ou uma sensação difusa de tensão e cansaço. A lentidão, quando ignora os outros, vai corroendo pouco a pouco a confiança espontânea entre desconhecidos.

Os investigadores veem na marcha uma linguagem coletiva, tão real quanto as palavras. Lê-se nela cortesia, dominação, escuta, arrogância. Andar mais depressa ou mais devagar não é moral em si. O que muda tudo é a pergunta silenciosa que a acompanha: “Estou a andar como se os outros contassem, ou como se estivesse sozinho num cenário?”

Da próxima vez que alguém bloquear um corredor inteiro com um passo arrastado e um ecrã luminoso, talvez se recorde destes estudos. Vai perguntar-se se essa pessoa está apenas perdida nos seus pensamentos ou se está a repetir, sem o saber, este padrão que os investigadores observam com insistência. E talvez se apanhe a ajustar também, meio passo: um ligeiro desvio, um ligeiro acelerar, uma atenção diferente.

Porque, no fundo, a velocidade de marcha não é uma questão de “rápidos bons” contra “lentos maus”. É uma questão de olhar. De quem é incluído no enquadramento mental quando avançamos. A psicologia lembra-nos que cada um dos nossos passos leva uma mensagem para quem se cruza connosco, mesmo que nunca tenhamos assinado essa mensagem. Resta escolher - consciente ou inconscientemente - o que queremos que ela diga.

Ponto-chave Detalhe Interesse para o leitor
Velocidade de marcha e personalidade Os caminhantes cronicamente lentos e indiferentes aos outros apresentam mais frequentemente traços narcisistas e pouca empatia nos estudos. Perceber o que o seu ritmo diz sobre si, para lá da simples forma física.
“Velocidade social” Adaptar a marcha ao fluxo, desviar-se, deixar passar, olhar em redor, sem necessariamente acelerar muito. Ter um referencial simples para melhorar as interações anónimas do dia a dia.
Micro-gestos coletivos Encostar-se ao lado para parar, evitar bloquear, reduzir a largura quando se vai a par. Reduzir a tensão nos espaços públicos e reforçar um sentimento discreto de vida em comum.

FAQ:

  • Todos os caminhantes lentos são narcisistas ou egoístas? Não. A investigação fala de tendências, não de destino. Existem problemas de saúde, cansaço, ansiedade ou simplesmente o prazer de um ritmo mais lento. O sinal de alerta é a lentidão crónica combinada com zero ajuste aos outros.
  • Quem anda depressa tem uma personalidade “melhor”? Não necessariamente. Quem anda muito depressa também pode ser impaciente, movido pelo stress ou pouco atento. O que mais importa nos dados é a consciência dos outros, não a velocidade em bruto.
  • Como posso saber se o meu estilo de caminhar é um problema? Se as pessoas têm frequentemente de se desviarem de si, suspiram atrás de si ou dizem “com licença” para poderem passar, isso é uma pista. Repare se alguma vez muda o ritmo ou a posição por causa de outra pessoa.
  • Mudar a minha velocidade a andar pode mudar a minha personalidade? Mudar a velocidade não reescreve magicamente quem é. Ainda assim, adotar uma “velocidade social” pode reforçar hábitos de atenção, respeito e partilha do espaço, que por vezes acabam por se refletir no resto.
  • E se eu gostar de andar devagar mas me importar com os outros? Mantenha o seu ritmo calmo onde ele faz sentido: parques, passeios largos, ruas tranquilas. Em espaços cheios, estreitos e sensíveis ao tempo, entre num ritmo mais social. Não tem de renunciar à lentidão - apenas colocá-la no sítio certo.

Comentários (0)

Ainda não há comentários. Seja o primeiro!

Deixar um comentário