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Deita fora as tintas! A nova tendência dos cabelos grisalhos faz com que pintar o cabelo já não seja bem visto.

Mulher de roupão corta o cabelo em frente a um espelho na casa de banho, com planta e produtos de higiene ao lado.

A mulher na cadeira do salão está a chorar, muito baixinho.

No espelho, o seu cabeleireiro levanta uma madeixa de cabelo frio, prateado, e diz, quase em tom de desculpa: “As suas raízes outra vez.” À volta, as folhas de alumínio crepitam, as taças tilintam, o cheiro agressivo da tinta arde um pouco no nariz. Duas cadeiras ao lado, uma mulher com um bob cinzento bem marcado desliza o dedo no telemóvel enquanto a colorista sopra o chá. Ela parece dona da sala sem sequer tentar.

Lá fora, no Instagram e em campanhas brilhantes, o cabelo prateado está, de repente, em todo o lado. Não como um problema a resolver, mas como um distintivo de honestidade. Influenciadoras jovens pintam o cabelo de cinzento de propósito. Avós deixam de o cobrir. E, pelo meio, milhões de mulheres encaram os espelhos das casas de banho e perguntam-se se os frascos de tinta debaixo do lavatório não parecem agora um bocadinho… culpados.

Algo mudou.

A revolução do cabelo grisalho que ninguém viu chegar

Faça scroll no seu feed esta noite e conte quantas publicações sobre “cabelo grisalho” encontra antes de chegar ao fim. É provável que não demore muito. O que antes se sussurrava como “tenho mesmo de retocar as raízes” agora publica-se como “Dia 180 da minha jornada prateada” com 20.000 gostos. Os mesmos fios que antes eram escondidos sob camadas de castanho e caramelo são, de repente, material de primeira fila.

As marcas repararam. Corredores de produtos capilares que antes gritavam “anti-idade” estão agora cheios de champôs roxos a proclamar orgulhosamente “para rainhas prateadas” e “nasci para ser grisalha”. A história mudou: o cabelo grisalho já não é uma perda - é uma estética. Uma escolha. Uma afirmação que diz: “Não me vou editar para o teu conforto.” O cabelo pintado, em contraste, começa a parecer o filtro que se esqueceu de tirar.

Há alguns anos, os grupos de Facebook sobre cabelo grisalho eram pequenos e discretos, como círculos de apoio. Agora, os nomes são sonoros e quase desafiadores: “Silver Sisters”, “Grombre”, “Going Grey Gracefully”. Muitos têm centenas de milhares de membros a partilhar fotos embaraçosas da fase de crescimento, linhas do tempo e confissões cruas. Lê-se como um êxodo em massa da cadeira da coloração. Um estudo nos EUA concluiu que a coloração em salão caiu acentuadamente após os confinamentos, enquanto as pesquisas por “assumir o cabelo grisalho” dispararam em todo o mundo.

Depois vieram as celebridades. Quando Andie MacDowell apareceu em Cannes com uma juba prateada selvagem, tipo nuvem, a internet perdeu a cabeça. Quando, em 2020, raízes grisalhas naturais começaram a aparecer em estrelas durante videochamadas, pareceu estranhamente íntimo. Não “corrigiram” entre takes. Deixaram-nos ver a linha onde a representação terminava e a pessoa começava. De repente, essa linha nas nossas próprias cabeças não parecia negligência. Parecia honestidade.

Há uma corrente cultural mais profunda por trás desses fios prateados. Envelhecer costumava ser algo que diziam às mulheres para disfarçar, como uma infiltração no teto. A tinta era o estuque: trabalho invisível, feito de poucas em poucas semanas, para que a fachada se mantivesse lisa. Agora, o guião está a ser reescrito em tempo real. O cabelo grisalho é enquadrado como “autêntico”, “cru”, “sem filtro”. Se o grisalho é autêntico, então onde fica o cabelo pintado?

É aqui que a vergonha entra, em silêncio. Algumas mulheres que continuam a pintar confessam online que se sentem “falsas” ou “cobardes” em comparação. Como se escolher um tom castanho ou cobre fosse um fracasso moral em vez de uma simples preferência. Essa é a face sombria de qualquer tendência que reivindica superioridade. Quando uma escolha é apresentada como corajosa e honesta, a outra começa a parecer mentira.

Como navegar a nova narrativa de “cabelo bom vs cabelo mau”

Se sente que está a ser puxada em duas direções opostas, está longe de estar sozinha. De um lado: anos de revistas e comentários de família a dizer que cabelo grisalho é “desleixo”. Do outro: uma nova vaga a dizer-lhe que a tinta é negação de si mesma, quase uma traição ao seu verdadeiro eu. Esse cabo de guerra é exaustivo. Por isso, o primeiro passo prático é aborrecido e radical ao mesmo tempo: desligar o ruído.

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Experimente um teste simples, muito humano. Da próxima vez que pensar “tenho de cobrir as raízes”, pare e pergunte: Para quem é que estou a fazer isto? Não de forma abstrata. Pense em rostos reais. É para o seu chefe, o seu companheiro, a sua mãe, o seu eu mais jovem? Não há resposta certa, apenas uma resposta honesta. Depois disso, as escolhas sobre pintar ou não pintar deixam de parecer um referendo ao seu caráter e passam a ser aquilo que realmente são: decisões de cuidado pessoal.

Depois vêm as questões práticas. Se decidir deixar ficar o grisalho, não tem de rapar o cabelo nem de aguentar uma linha marcada no couro cabeludo. Os coloristas estão cada vez melhores em “saídas suaves”: acrescentar madeixas (highlights), sombras (lowlights) ou um tom mais claro próximo do seu grisalho natural, para que o crescimento fique esbatido em vez de agressivo. Se decidir continuar a pintar, ajuste a rotina para reduzir a sensação de estar a esconder. Tons ligeiramente mais suaves, mais dimensão, uma sombra na raiz que permita que um pouco da cor natural viva na base. O objetivo não é apagar-se. É sentir-se você no seu próprio reflexo.

Há uma crueldade discreta a infiltrar-se em parte do discurso do “assumir o grisalho”. Expressões como “finalmente livre”, “acabou o cabelo falso”, “já não escondo quem sou” soam empoderadoras à primeira vista. Ouça uma segunda vez e percebe-se o julgamento implícito dirigido a quem ainda compra tinta de caixa. É a versão bem-estar da antiga pressão, só que com vilões diferentes. Antes, era “preguiçosa” se não pintasse. Agora é “inautêntica” se pinta.

Uma mulher perto dos sessenta disse-me, meio a rir, meio cansada:

“Deixei crescer o cabelo durante o confinamento e os elogios eram constantes - ‘és tão corajosa’, ‘és tão real’. Quando decidi voltar a pintá-lo de cobre, as pessoas ficaram… desiludidas. Como se eu tivesse traído a causa. É o meu cabelo, não é um partido político.”

Por baixo desta nova superfície, a mesma insegurança antiga coça: estou a envelhecer “bem”? Ainda posso gostar de batom e brilho e, sim, castanho-avelã, se também quero que me levem a sério quando digo que aceito quem sou?

  • O cabelo grisalho não é automaticamente feminista.
  • O cabelo pintado não é automaticamente falso.
  • As suas razões importam mais do que o ciclo das tendências.

Assumir a sua escolha, quer deite fora a tinta, quer a mantenha

As mulheres mais centradas com quem falei tinham algo em comum: decidiram, de forma muito consciente, que história queriam que o seu cabelo contasse - e depois mantiveram-se nisso. Não para sempre, mas tempo suficiente para perceberem como se sentiam de facto. Se quiser inclinar-se para o grisalho, defina um horizonte claro: seis meses, talvez, ou um ano inteiro. Não para se castigar, mas para ultrapassar a fase confusa do meio, em que tudo parece pior com a luz da casa de banho.

Use esse tempo para brincar, não apenas para aguentar. Experimente cortes que favoreçam a nova textura e cor: bobs mais definidos, camadas suaves, até um pixie ousado que transforme o prateado num ponto de exclamação. Champô roxo uma vez por semana para evitar amarelecer, um condicionador mais rico porque os fios grisalhos tendem a ser mais secos. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Mas um pouco de cuidado extra aqui e ali pode transformar “pareço velha” em “pareço que fiz isto de propósito”.

Se decidir continuar a pintar, há outro tipo de trabalho - o interior. Repare nos momentos em que sente a picada do julgamento, explícito ou subtil. A colega que diz: “Ah, pensei que tinhas parado de pintar, estavas tão livre!” A influenciadora que insinua que cor no cabelo é igual a auto-ódio. Em vez de engolir isso, dê-lhe nome: esta pessoa está a projetar a jornada dela na minha cabeça. Esse simples gesto é estranhamente protetor. Tira a narrativa dela das suas raízes e devolve-a ao sítio certo: a ela.

Como me disse um stylist em Londres, encolhendo os ombros:

“O cabelo mais bonito na minha cadeira é sempre o cabelo que combina com a decisão da mulher. Sente-se a diferença quando ela assume, em vez de pedir desculpa.”

No plano prático, se adora a sua cor, simplifique a rotina para que pareça cuidado, não pânico. Espaçe as marcações com uma balayage subtil em vez de cobertura total de raiz a cada três semanas. Use fórmulas mais suaves, sem amoníaco, sempre que possível. Lembre-se: uma foto má da fase de crescimento não a define. Numa terça-feira qualquer, com má iluminação no escritório, ninguém está a fazer zoom na sua linha de demarcação com a mesma severidade que você. Todas já tivemos aquele momento em que a luz fluorescente de um elevador nos faz duvidar da vida inteira.

  • Defina os seus próprios “valores capilares” antes de fazer scroll nas redes sociais.
  • Escolha um profissional que respeite tanto o grisalho como a coloração, e não uma agenda.
  • Fale com amigas sobre a pressão - dizê-lo em voz alta alivia.

A rebelião silenciosa escondida no espelho da sua casa de banho

Fique em frente ao espelho esta noite e olhe para o seu cabelo como se pertencesse a alguém de quem gosta. Não alguém com quem se compara, nem alguém que critica em miniaturas do Zoom. Uma amiga. Diria a ela que é “falsa” por gostar de um castanho mais rico? Diria que está a “deixar-se ir” por gostar das madeixas prateadas ao sol? Provavelmente não. Diria algo muito mais comum e gentil: “Sentes que isto és tu?”

A nova tendência do cabelo grisalho é uma experiência social fascinante em tempo real. Está a expor regras sobre feminilidade, juventude e “apresentação” para as quais nunca votámos. Também está a tentar transformar uma libertação numa nova obrigação. Grisalho vs pintado. Honesto vs falso. Corajoso vs vaidoso. O cabelo não merece tanto peso moral. É queratina morta, não uma confissão.

Há uma rebelião silenciosa ao alcance de todas nós: escolher de propósito e depois recusar pedir desculpa. Pinte o cabelo de preto profundo e brilhante aos 70 porque isso a faz sentir uma estrela de cinema no dia de ir ao mercado. Deixe-o ficar totalmente branco aos 35 porque já não quer esconder os fios do stress. Misture têmporas grisalhas com pontas cor-de-rosa só porque isso faz sorrir a adolescente dentro de si. Partilhe essas escolhas com as suas filhas, sobrinhas, filhos também - não como um modelo “certo”, mas como prova viva de que envelhecer não é um uniforme.

As tendências vão continuar a oscilar. Os algoritmos vão continuar a empurrar selfies prateadas e confissões de “finalmente deitei fora a tinta”. O que fica é algo muito mais silencioso e menos partilhável: o pequeno suspiro privado de alívio quando o seu reflexo combina com a história na sua cabeça.

Ponto-chave Detalhe Interesse para o leitor
A tendência do cabelo grisalho muda o guião O grisalho é agora comercializado como chique e autêntico, empurrando o cabelo pintado para o canto do “falso”. Ajuda a perceber porque é que as suas escolhas habituais de cor passaram, de repente, a ser julgadas.
A vergonha está a mudar, não a desaparecer Se antes as mulheres eram envergonhadas pelos brancos, algumas agora sentem vergonha por usarem tinta. Tranquiliza: a confusão ou culpa em torno do cabelo é um padrão social, não um defeito pessoal.
As suas motivações importam mais do que a tendência Clarificar para quem está realmente a arranjar o cabelo torna qualquer decisão mais tranquila. Dá-lhe uma forma prática de escolher - e manter - o que lhe faz sentido na sua cabeça.

FAQ:

  • É “errado” continuar a pintar o cabelo na era do orgulho no grisalho?
    De maneira nenhuma. A tendência do grisalho desafia regras antigas; não as substitui por novas regras que seja obrigada a cumprir. Se a cor a faz sentir mais ela própria, é uma escolha válida e adulta.
  • Como posso deixar crescer a tinta sem parecer “desleixada” durante meses?
    Trabalhe com um/uma colorista em transições mais suaves: madeixas, sombras, ou um tom próximo do seu grisalho natural. Aparar com regularidade e escolher um corte deliberado (bob, shag ou pixie) pode transformar o processo num estilo, não numa fase de desânimo.
  • O cabelo grisalho faz sempre parecer mais velha?
    Não necessariamente. O corte, a textura, a maquilhagem e a roupa têm tanto impacto como a cor. Um corte definido e moderno e um brilho saudável podem fazer o grisalho parecer arrojado, não envelhecido.
  • As pessoas estão mesmo a julgar mulheres que ainda pintam o cabelo?
    Algumas sim, muitas vezes sem se aperceberem. As redes sociais amplificam opiniões fortes. Fora da internet, a maioria das pessoas está muito mais focada em você parecer você, do que em saber se a cor vem de um tubo.
  • Como decido o que é certo para mim a longo prazo?
    Experimente uma “época” de cada opção. Comprometa-se com seis meses de crescimento e depois seis meses de coloração intencional, observando como se sente e como vive com cada uma. O seu humor diário ao espelho dir-lhe-á mais do que qualquer tendência alguma vez dirá.

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