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O truque infalível de um campista para afastar ursos sem arma: "fiquei apavorado, mas resultou".

Pessoa acampando à noite, com lanterna na cabeça, junto a uma fogueira e uma tenda amarela, com um urso ao fundo.

O episódio, ocorrido no início da época de verão, lembra que os encontros com ursos exigem reflexos claros e repetíveis. Para além do susto, a história destaca gestos concretos, eficazes sem arma de fogo, que qualquer caminhante pode aprender.

Uma noite tensa no coração das Montanhas Rochosas

O campista instalou-se cedo, longe dos trilhos, após um dia de caminhada. O céu ficou nublado e a luz dos frontais começou a dançar entre os pinheiros. Na periferia do acampamento, estalos secos. Uma silhueta escura. Um urso negro, visivelmente atraído pelos cheiros do jantar arrefecido. Sem espingarda. Sem abrigo por perto. Apenas um saco-cama, uma panela e uma decisão a tomar.

Escolheu a opção mais rápida de executar. Endireitar-se. Fazer-se grande. Falar com voz forte. Depois, fazer barulho ritmado com uma panela e uma colher de pau. Três séries de pancadas espaçadas por alguns segundos. Gritos curtos e articulados, para sinalizar bem a presença humana. O animal ergueu a cabeça, hesitou, deu alguns passos para o lado, depois virou costas. Quando o silêncio voltou, o campista prolongou o ruído por mais um minuto, dissipando qualquer curiosidade residual.

A combinação de visibilidade + barulho estruturado + recuo controlado afasta a maioria dos ursos curiosos antes de qualquer contacto.

O gesto que muda tudo

O barulho surpreende um urso que se aproxima por curiosidade. Quebra o cenário de aproximação discreta e envia um sinal claro: humano presente, risco elevado. O campista não correu. Não atirou comida. Não se aproximou do animal. Manteve uma árvore entre ele e o urso, pronto para recuar em diagonal para um terreno mais aberto.

Este protocolo é ensinado em muitas formações norte-americanas de segurança em ambientes selvagens. Baseia-se em dois princípios simples: não agir como uma presa e não ficar encurralado. O barulho, produzido com utensílios do acampamento ou um apito, serve de ferramenta de dissuasão imediata quando o afastamento discreto já não é possível.

Porque é que o barulho resulta

A maioria dos ursos evita os humanos. O seu objetivo principal: aceder a uma fonte de calorias com o mínimo risco. Um humano que se impõe, se faz grande, fala alto e gera um som invulgar altera o equilíbrio custo-benefício. No urso negro, isto leva geralmente ao recuo. Num urso pardo defensivo, o barulho pode ser suficiente se o animal não tem crias por perto e se a aproximação não foi uma reação a ser surpreendido.

Os limites a conhecer

O barulho não substitui a prevenção. Não compensa um acampamento saturado de odores de comida. Não neutraliza um animal habituado a restos humanos. Não se sobrepõe às distâncias de segurança. Perante uma fêmea com crias, deve dar-se prioridade ao recuo lento, sem contacto visual direto, protegendo o espaço com a voz e, se disponível, com spray de pimenta.

Distâncias a reter: 100 metros para observar, 50 metros para recuar calmamente, 10 metros para usar spray, 0 metros significa que o erro começou muito antes.

Preparar um acampamento que não tente os ursos

Antes do gesto que salva, há a organização que evita o encontro. Um acampamento limpo desencoraja a curiosidade e reduz riscos durante a noite.

  • Montar o “triângulo do acampamento”: dormir, cozinhar e armazenar, cada um a 100 metros dos outros dois.
  • Embalhar cada alimento e produto odorífero (sabão, pasta de dentes) em recipientes herméticos.
  • Guardar comida num recipiente próprio para ursos ou pendurar o saco a 4 m do chão e 2 m do tronco.
  • Cozinhar e comer em solo mineral, nunca perto da tenda.
  • Não queimar gorduras nem embalagens: tudo vai num saco de transporte próprio, bem fechado.
  • Lavar panelas e mãos à parte, a jusante, usando pouca água.

O kit mínimo anti-urso

  • Spray de pimenta para ursos (alcance de 8 a 10 m, pronto a usar, preso ao cinto).
  • Apito potente ou buzina compacta.
  • Pequena panela metálica e colher para produzir um som claro.
  • Corda e mosquetão para pendurar alimentos.
  • Luz frontal com feixe forte e modo intermitente.
  • Luvas finas para manusear a corda e evitar ferimentos em caso de urgência.

O que fazer conforme a situação

SituaçãoIndíciosReação recomendadaDistância mínima
Urso avistado à distânciaSilhueta visível, vento favorávelMudar de rota, falar calmamente, manter contacto visual indireto≥ 100 m
Aproximação curiosa ao acampamentoPassos rápidos, focinho no arFazer-se grande, barulho ritmado, recuar em diagonal para espaço aberto≥ 50 m
Aproximação insistenteOlhar fixo, trajetória diretaPreparar o spray, intensificar barulho, criar obstáculo entre si e o urso10–15 m (spray pronto)
Contacto iminenteCorrida curta, respiração ofeganteUsar o spray no focinho, apontar para baixo, rajadas curtas8–10 m

Compreender os comportamentos para decidir melhor

Um urso negro à procura de restos reage normalmente ao barulho e à atitude. Uma fêmea de urso pardo incomodada responde primeiro com uma investida de intimidação. Se o contacto for inevitável, proteger-se no solo em posição fetal, mãos na nuca, mochila como escudo, reduz as lesões. Perante um urso negro que ataca de forma predatória, resistir, bater no focinho e nos olhos, e manter barulho intenso aumenta as hipóteses de o desencorajar.

Cada segundo conta. Fugir desencadeia a perseguição. Subir a uma árvore leva tempo e expõe. A escolha certa é avaliar rapidamente o vento, a fuga, os companheiros e os meios acessíveis.

Não corra. Não deixe comida. Nunca se aproxime de uma cria, nem para uma fotografia.

O que revela o incidente no vale

O campista agiu sem arma de fogo e salvou-se graças a uma resposta codificada e repetível. O seu acampamento, um pouco marcado pelos odores, terá provavelmente atraído o urso. O barulho estruturado e o recuo em diagonal inverteram a dinâmica. A noite prosseguiu sem novas visitas após uma última ronda ao acampamento, com os alimentos deslocados e bem pendurados.

Este tipo de evento lembra uma realidade simples: a prevenção reduz o risco, a preparação permite agir e um protocolo claro encerra o incidente.

Simular para reagir melhor

Antes de partir, praticar faz a diferença. Cronometre a extração do spray do cinto. Repita o gesto de armar. Treine uma sequência de barulho com panela e apito. Monte o triângulo do acampamento em menos de dez minutos. Faça jogos de papéis: um parceiro faz de urso, o outro anuncia em voz alta cada etapa, da identificação à retirada.

Estas repetições criam automatismos. Sob stress, o corpo segue o plano treinado, em vez do pânico.

Ir mais longe no terreno

Avalie o vento com um pouco de pó de magnésio ou um fio de erva à altura dos olhos. O vento a soprar das suas costas leva os seus odores até ao urso e alerta-o mais cedo. Programe o percurso com zonas abertas para evitar surpresas nos corredores de pedregulhos. Distribua funções no grupo: um líder, um vigia traseiro, um responsável pelo spray.

Pense também na logística: um transmissor satélite facilita o pedido de ajuda se alguém não puder andar. Um saco estanque dedicado aos odores protege o material de impregnações. Uma rotina clara ao anoitecer (limpar, arrumar, pendurar, verificar) limita os erros. Estes gestos, aliados ao reflexo do barulho estruturado, criam um sistema coeso que protege os caminhantes e permite aos ursos continuarem a sua vida selvagem.

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