Numa estrada comum, uma fiscalização semeia a dúvida e recorda uma regra ignorada por milhões de automobilistas apressados.
Apanhado ao volante, um condutor aprendeu à sua custa que um hábito considerado inofensivo continua proibido, mesmo sem chamada em curso. O episódio relança uma questão simples: o que se pode, ou não, fazer com o telemóvel ao conduzir?
Um testemunho que chama a atenção
Um homem na casa dos 40 anos que percorre a mesma estrada secundária todas as manhãs foi mandado parar numa fiscalização de rotina. Tinha o telemóvel na mão, encostado ao volante, em modo alta-voz. Sem mensagem, sem chamada prolongada: “apenas um olhar e um ajuste”, pensava ele. O agente não hesitou: autuação imediata.
Segurar um telemóvel na mão ao conduzir, mesmo em alta-voz ou apenas por um gesto breve, leva a uma multa de 135 € e menos 3 pontos.
A cena ilustra uma ideia errada persistente: mãos-livres não significa telemóvel na mão. A lei visa o objeto segurado, não apenas a conversa. Muitos ainda confundem “não estou a falar” com “estou no meu direito”.
A regra desconhecida do telemóvel na mão
O que diz o código da estrada
O artigo R412-6-1 proíbe o uso de telemóvel segurado na mão ao volante. A proibição abrange todas as funções: chamadas de voz, consulta de itinerário, ver notificações, iniciar música ou ajustar uma aplicação. Um smartphone colocado num suporte continua permitido, mas a sua manipulação pode ser considerada falta de domínio do veículo (artigo R412-6).
A multa é fixa e a perda de pontos automática.
| Infração | Pontos retirados | Valor |
| Telemóvel segurado na mão | 3 | Multa fixa 135 € (reduzida 90 €, agravada 375 €, máximo legal 750 €) |
Os casos que custam caro
Desde o endurecimento da legislação, o uso do telemóvel na mão + outra infração simultânea (ultrapassagem de linha contínua, excesso de velocidade, não parar no STOP…) pode dar origem à retenção imediata da carta de condução, seguida de uma eventual suspensão administrativa. Este cenário é raro, mas existe e surpreende quem pensava que só teria de pagar uma coima simples.
Se outra infração for detetada em simultâneo com o uso do telemóvel na mão, a carta pode ser apreendida imediatamente.
Porque o risco aumenta de verdade
Segundos passados a olhar para o ecrã transformam-se em dezenas de metros percorridos sem atenção. A 50 km/h, 2 segundos de distração equivalem a cerca de 28 metros. A 90 km/h, são 50 metros. A 130 km/h, quase 72 metros. A conversa em modo mãos-livres já distrai a mente; acrescentar manipulação multiplica o perigo. Os sistemas de assistência à condução não corrigem tudo, sobretudo em trânsito intenso.
- Notificação sonora: reflexo de olhar para o ecrã.
- Mudar de playlist: movimentos da mão e da cabeça.
- Ajustar o GPS em andamento: olhos fora da estrada no momento errado.
O que fazer para evitar a multa (e o acidente)
- Antes de arrancar, configurar o itinerário, a música e o volume.
- Ativar o modo “condução” ou “não incomodar”, que bloqueia notificações.
- Usar um suporte fixo e um sistema mãos-livres integrado (Bluetooth, comandos no volante, Android Auto/CarPlay).
- Não tocar no telemóvel parado num semáforo ou num engarrafamento: continua a ser considerado em circulação.
- Se necessário, parar numa zona autorizada, fora da via, com o veículo imobilizado.
- Confiar o telemóvel ao passageiro para qualquer manipulação.
Quando o uso é permitido
A regra principal: parar numa zona de estacionamento autorizada, fora da faixa de rodagem e das vias de circulação. O veículo não deve causar obstrução. Parar na berma de emergência, em zona de carga/descarga, em corredor BUS ou em berma não prevista para estacionamento pode originar outras infrações.
Dinheiro e carta: o que realmente está em jogo
A retirada de 3 pontos acontece após o pagamento ou condenação definitiva. Para carta provisória, o impacto é maior: a margem de pontos disponíveis diminui rapidamente e pode obrigar a frequentar uma ação de formação.
- Recuperação automática: se não cometer nova infração, 1 a 3 pontos perdidos regressam ao fim de 6 meses.
- Ação de formação voluntária: até 4 pontos recuperados, uma vez por ano (intervalo de 12 meses), custo normalmente entre 200 e 300 €.
- Seguro: uma multa isolada não provoca agravamento legal, mas o acumular de infrações pode influenciar o prémio na renovação.
Se receber a notificação de infração
O prazo para contestar é geralmente de 45 dias a partir da notificação. A contestação suspende o pagamento, mas pode obrigar ao depósito prévio do valor. No caso de viatura emprestada, o titular do documento de registo deve identificar o condutor efetivo. Sem identificação, pode ser emitida nova coima por não identificação para pessoas coletivas.
Nem sempre é anexada uma fotografia a este tipo de infração, porque a avaliação é frequentemente feita diretamente na fiscalização. Um testemunho concreto ou uma incoerência material na coima podem apoiar a contestação, mas o desfecho é incerto se o agente viu o objeto na mão.
Perguntas frequentes dos condutores
O meu telemóvel está num suporte: posso tocar no ecrã?
O texto pune o facto de segurar o aparelho na mão. Tocar brevemente num ecrã fixo não é expressamente referido, mas pode ser considerado falta de domínio se a manobra desviar a atenção ou causar condução irregular. Gesto breve e seguro, ou paragem numa área de serviço: é a decisão mais prudente.
Auscultadores e headphones são permitidos?
Não. O uso de dispositivos sonoros no ouvido é proibido ao volante (incluindo de bicicleta ou motociclo), exceto para aparelhos corretivos de deficientes auditivos. Sistemas ligados ao altifalante do veículo continuam autorizados.
Referências práticas para avaliar o seu risco
- A 50 km/h: 1 notificação lida em 2 segundos = atravessar uma passagem de peões “sem ver”.
- A 90 km/h: 3 segundos a ajustar o GPS = 75 metros, o comprimento aproximado de um campo de futebol.
- A 130 km/h: uma simples procura de contacto = 100 metros percorridos quase em “piloto automático”... mas não é.
Defina uma regra pessoal clara: zero interação em movimento, mesmo que a estrada pareça vazia.
Para ir mais longe na prática
Configure uma “mensagem de ausência” automática em modo condução: quem ligar recebe um SMS a indicar que será contactado assim que estacionar. Programe os percursos habituais na aplicação GPS antes de sair; a navegação propõe itinerários alternativos sem precisar de recorrer ao ecrã. Se o carro não tiver Bluetooth, existe kit mãos-livres autónomo e económico; confirme a fixação e a qualidade do microfone para evitar mexer no aparelho.
Os condutores profissionais beneficiam em formalizar um regulamento interno: telemóvel no porta-luvas, paragens planeadas de duas em duas horas para responder a mensagens, proibição de orientações urgentes durante a condução. Este quadro protege o trabalhador e a empresa, limita conflitos de horário e reduz o stress decisório ao volante.
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